sábado, 8 de abril de 2017

O FALCÃO E O CÁLICE



          Certa manhã o guerreiro mongol Gengis Khan saiu com sua corte para caçar.
          Enquanto seus companheiros levavam flechas e arcos, Gengis Khan carregava seu falcão favorito no braço, que era mais veloz e mais preciso que uma flecha, pois podia subir aos céus e ver tudo aquilo que o ser humano não conseguia enxergar.
           Entretanto, apesar de todo entusiasmo do grupo, não conseguiram encontrar nada.
          Decepcionado, Gengis Khan voltou para o seu acampamento. Mas, para não descarregar sua frustração em seus companheiros, separou-se da comitiva e resolveu caminhar sozinho.
           Tinham permanecido na floresta mais que o esperado e Gengis Khan estava cansado e com sede.
          Por causa do calor do verão os riachos estavam secos. Não conseguia encontrar água para beber até que, enfim, avistou um fio de água descendo de um rochedo bem à sua frente.
          Na mesma hora, retirou o falcão do seu braço, pegou o pequeno cálice de prata que sempre levava consigo, demorou um longo tempo para enche-lo e, quando estava prestes a leva-lo aos lábios, o falcão levantou voo e arrancou o copo de suas mãos, atirando-o longe.
          Gengis Khan ficou furioso, mas era seu animal favorito, talvez estivesse também com sede. Apanhou o cálice, limpou a poeira e tornou a enche-lo. Após um tanto de tempo, com a sede apertando cada vez mais e com o cálice já pela metade, o falcão de novo atacou-o derramando o líquido.
          Gengis Khan adorava seu animal, mas sabia que não podia deixar-se desrespeitar em nenhuma circunstância, ja que alguém podia estar assistindo à cena de longe e mais tarde contaria aos seus guerreiros que o grande conquistador era incapaz de domar uma simples ave.
          Desta vez, tirou a espada da cintura, pegou o cálice, recomeçou a enche-lo. Manteve um olho na fonte e o outro no falcão. Assim que viu ter água suficiente e quando estava pronto para beber, o falcão de novo levantou voo e veio em sua direção. Gengis Khan, em um golpe certeiro, atravessou o peito do falcão, matando-o.
          Retomou o trabalho de encher o cálice, mas o fio de água havia secado.
          Decidido a beber de qualquer maneira, subiu o rochedo em busca da fonte. Para sua surpresa, havia realmente uma poça d'água, e no meio dela, morta, uma das serpentes mais venenosas da região.
          Se tivesse bebido a água, já não estaria mais no mundo dos vivos.
          Gengis Khan voltou ao acampamento com o falcão morto em seus braços.
          Mandou fazer uma reprodução em ouro da ave e gravou em uma das asas: 

          "Mesmo quando um amigo faz algo que você não gosta, ele continua sendo seu amigo."

          Na outra asa:

          "Qualquer ação motivada pela fúria, é uma ação condenada ao fracasso."

          Nem sempre o que parece ser, realmente é.
      


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