quarta-feira, 26 de julho de 2017

A HISTÓRIA DAS LAJOTAS QUEBRADAS





          Conta a história que, nas décadas de 40 e 50, havia duas grandes indústrias de cerâmica em São Paulo.
          Um dos produtos principais (e mais baratos) dessas empresas era a lajota cerâmica quadrada vermelha. Em menores lotes, eram produzidas peças amarelas, brancas e pretas.
          Como não havia processos efetivos de controle de qualidade, manuseio e transporte, uma parte relevante da produção se quebrava e, como era considerada sem valor, acabava enterrada em terrenos próximos das fábricas
          Nessa época, existiam “lotes operários” de moradia, que eram padronizados de tamanho 10mx30m ou 8mx25m. Portanto, havia área para jardim e quintal. Grande parte do espaço aberto acabava cimentada, pois os operários não tinham dinheiro para revestir os quintais com qualquer tipo de piso.
          Mas, certo dia, um empregado de uma das fábricas, que não tinha recursos para cimentar a área externa de sua casa, lembrou-se das peças quebradas e solicitou que pudesse utilizar parte do refugo. A empresa aceitou, já que tinha custos para levar os cacos até os terrenos e enterrá-los. Na verdade, “conta a lenda”, que a fábrica até fez a entrega na casa do funcionário.
          Pois eis que o funcionário, ao assentar os caquinhos em seu quintal, utilizou predominantemente as peças vermelhas, mas decidiu também deixar uma ou outra pecinha amarela e preta, pra quebrar a monotonia. Fez o trabalho com muito capricho e a entrada da sua casa ficou lindona.
          Os vizinhos ficaram interessados pela inovação e também resolveram adotar os cacos de lajota para cobrirem seus quintais e entradas. Do mesmo jeitinho. Predominantemente vermelhos e com detalhes amarelos e pretos.
          A direção das fábricas achou tudo ótimo, pois assim reduziam seus custos de descarte do refugo.
          A novidade foi se espalhando e ficando conhecida, até tornar-se... MODA! Alguns jornais até mesmo noticiaram o novo estilo paulistano.
          O diretor comercial de uma das fábricas vislumbrou uma oportunidade: parou de oferecer os caquinhos de graça e começou a vende-los, por cerca de 30% do valor original das peças. Obviamente, essa decisão foi seguida pela outra empresa.
          A demanda não parava de crescer e aconteceu algo inesperado: começou a faltar caquinhos de cerâmica!!! E mais, o seu valor passou a ser tão caro quanto a peça íntegra!
          Mas não parou por aí!
          A procura continuou aumentando, a ponto de as fábricas decidirem começar a quebrar as peças inteiras, para vender os caquinhos!!!! WOW!
          Como consequência, o metro quadrado dos pisos quebrados começou a ser vendido por valores mais caros do que o metro dos pisos inteiros!
          Veja só: um produto que não tinha nenhum valor, ou melhor, tinha um valor negativo (custo de descarte), passou a ter um valor neutro (o famoso “zero a zero”), enquanto era vendido pelo custo que gerava, até que, devido ao marketing / percepção de valor das pessoas, o produto começou a custar mais do que a peça original!
          O engenheiro Manoel Henrique Campos Botelho contou essa história na revista do Instituto de Engenharia, tratando-o como o “mistério de marketing das lajotas quebradas”. Ele ressalta a importância da estética, afirmando que “o belo é contagiante” e conta que a moda também se expandiu cobrindo muros, lojas e até pisos de fábricas, em diversas cidades do país!
          Há quem diga que a produção entrou em colapso pela falta de matéria-prima, um tipo de barro / argila. Outros afirmam que a demanda foi sendo reduzida a partir da construção e deslocamento da classe média para prédios de apartamentos.


     Para refletir:



Você pode agregar valor a um produto 
existente, aplicando-o de uma nova 
maneira. Buscando novas construções 
e estrutura estética para 
velhas peças.
Cuidado com o olho grande. Crescer demais e deslumbrar-se 
com a possibilidade de ganhos não pode comprometer 
a continuidade do negócio, nem ignorar 
o impacto ambiental e causar 
esgotamento dos recursos! 


O que você acha que não é útil e que não tem serventia, 
talvez possa ajudar alguém (ou muita gente!). 
Isso inclui o seu conhecimento.
Será que quando você pensa que está um caco, 
ainda não é matéria-prima para um lindo mosaico?
Que tal desenterrar umas pecinhas e começar 
a oferecer novas formas de gerar valor? 

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