domingo, 27 de agosto de 2017

A CASA PODRE

          Ela passou o primeiro dia empacotando todos os seus pertences em caixas, engradados e malas.
          No segundo dia, ela chamou os homens da transportadora que levaram a mudança.
         No terceiro dia, ela se sentou pela última vez na bela mesa da sala de jantar, à luz de velas, pôs uma música suave e se deliciou com uns camarões, um pote de caviar e um garrafa de Chardonnay.
           Quando terminou, foi a cada um dos aposentos e colocou alguns pedaços de casca de camarão, besuntados com caviar, nas cavidades dos varais das cortinas.
          Depois ela limpou a cozinha e se foi.
          Quando o marido retornou com a nova namorada, tudo estava um brinco nos primeiros dias.
          Depois, pouco a pouco, a casa começou a feder.
          Eles tentaram de tudo: limpando, lavando e arejando a casa..
          Todas as aberturas de ventilação foram verificadas à procura de possíveis ratos mortos e os tapetes foram limpos com vapor..
          Desodorantes de ar e ambiente foram pendurados em todos os lugares..
         A empresa de combate a insetos foi chamada para colocar gás em todos os encanamentos, durante alguns dias, durante os quais tiverem de sair da casa, e no fim ainda tiveram de pagar para substituir o caríssimo carpete de lã.
          Nada funcionou.
          As pessoas pararam de visitá-los.
         Os funcionários das empresas de consertos se recusavam a trabalhar na casa..
          A empregada se demitiu..
          Finalmente, eles não suportavam mais o fedor e decidiram se mudar.
          Um mês depois, apesar de terem reduzido o valor da casa em 50%,eles não conseguiram um comprador para a casa fedorenta.
      A notícia se espalhava e nem mesmo corretores de imóveis locais retornavam as ligações.
          Finalmente, eles tiveram de fazer um grande empréstimo do banco para comprar uma casa nova.
          A ex-esposa ligou para o marido e perguntou como andavam as coisas.
          Ele disse a ela o martírio da casa podre.
        Ela escutou pacientemente e disse que sentia muitas saudades da casa antiga e que estaria disposta a reduzir a parte que lhe caberia do acordo de separação dos bens em troca pela casa.
        Sabendo que a ex-mulher não tinha ideia de como estava o fedor, ele concordou com um preço que era cerca de 1/10 do que valeria a casa.
          Mas só, se ela assinasse os papéis naquele dia mesmo.
          Ela concordou e em menos de uma hora, os advogados deles entregavam os documentos.
         Uma semana depois, o homem e sua namorada assistiam, com um sorriso malicioso, os homens da mudança empacotando tudo para levar para a sua nova casa...

...incluindo os varais das cortinas.



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