segunda-feira, 28 de agosto de 2017

AMAR AS TEMPESTADES EM VEZ DE FUGIR DELAS


          O pássaro e o homem têm essências diferentes.
          O homem vive à sombra de leis e tradições por ele inventadas; o pássaro vive segundo a lei universal que faz girar os mundos.
          Acreditar é uma coisa; viver conforme o que se acredita é outra.
          Muitos falam como o mar, mas vivem como os pântanos.
          Muitos levantam a cabeça acima dos montes; mas sua alma jaz nas trevas das cavernas.
          A civilização é uma arvore idosa e carcomida, cujas flores são a cobiça e o engano e cujas frutas são a infelicidade e o desassossego.
          Deus criou os corpos para serem os templos das almas.
          Devemos cuidar desses templos para que sejam dignos da divindade que neles mora.
          Procurei a solidão para fugir dos homens, de suas leis, de suas tradições e de seu barulho
          Os endinheirados pensam que o sol e a lua e as estrelas se levantam dos seus cofres e se deitam nos seus bolsos.
          Os políticos enchem os olhos dos povos com poeira dourada e seus ouvidos com falsas promessas.
          Os sacerdotes aconselham os outros, mas não aconselham a si mesmos, e exigem dos outros o que não exigem de si mesmos.
          Vã é a civilização. E tudo o que está nela é vão.
          As descobertas e invenções nada são senão brinquedos com a mente que se diverte no seu tédio.
          Cortar as distâncias, nivelar as montanhas, vencer os mares, tudo isso não passa de aparências enganadoras, que não alimentam o coração e nem elevam a alma.
          Quanto a esses quebra-cabeças, chamados ciências e artes, nada são senão cadeias douradas com os quais o homem se acorrenta, deslumbrados com seu brilho e tilintar.
          São os fios da tela que o homem tece desde o início do tempo sem saber que, quando terminar sua obra, terá construído a prisão dentro da qual ficará preso.
          Uma coisa só merece nosso amor e nossa dedicação, uma coisa só…
          É o despertar de algo no fundo dos fundos da alma.
          Quem o sente não o pode expressar em palavras.
          E quem não o sente, não poderá nunca conhecê-lo através de palavras.
          Faço votos para que aprendas a amar as tempestades em vez de fugir delas.

(Kahlil Gibran, poeta e escritor libanês)


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