quinta-feira, 30 de março de 2017

OS RATOS QUE COMIAM FERRO



          Havia numa aldeia o filho de um comerciante chamado Jirnadama, que depois de despender loucamente toda a sua fortuna, pensou em ir para outro lugar.
          Porque bem se diz que:

          "Não tem dignidade aquele que, tendo gozado de toda sorte de satisfações em sua aldeia e em seu país enquanto foi rico, nela ou nele continue depois de arruinado."

          Tinha o rapaz, em sua casa, uma grande balança de ferro que antepassados haviam comprado. Ao partir, deixou-a depositada na casa de um comerciante e tomou o caminho de um outro país. Durante muito tempo viajou por estranhas terras, e quando regressou à sua aldeia procurou o depositário da balança, perguntando-lhe:

          - Queres dar-me a balança que deixei em tua casa?
          O outro respondeu:
          - Tua balança já não existe. Os ratos comeram-na.
          Jinardama comentou, então:
          - Se foi assim, não tens culpa. Tal é o mundo, nada existe de eterno. Vou tomar banho no rio; deixa que teu filho venha comigo para ajudar-me a levar os utensílios do banho.
          O depositário, temendo algo por parte do outro, disse ao seu filho:
          - Querido, teu tio vai banhar-se no rio. Acompanha-o para levar-lhe os utensílios.
          O menino apanhou os objetos que devia levar e acompanhou o recém-chegado. Feito isso, Jinardama, depois de banhar-se, fechou o menino numa gruta que havia junto do rio, cobrindo a entrada com uma grande pedra. Então voltou correndo pra casa, onde o comerciante, ao vê-lo só, exclamou:
          - Onde está meu filho?
          - Um falcão carregou-o da beira do rio - respondeu o outro.
          - Embusteiro! - disse o depositário - Como pode um falcão carregar um menino? Responde-me e devolve-me o meu filho, do contrário irei denunciar-te à Justiça.
          - É verdade: se os falcões não podem carregar um menino, também os ratos não podem comer uma grande balança de ferro. Devolva-me, pois, a minha balança em troca de teu filho.
           Assim disputando, chegaram à Casa da Justiça, onde o depositário bradou a altas vozes:
          - Um crime! Um crime! Este ladrão roubou meu filho!
          Então os juízes disseram a Jinardama:
          - Devolve o filho deste homem.
          - Mas como fazer tal coisa? Um falcão levou-o da beira do rio.
          Ao ouvir aquilo os juízes bradaram:
          - Não dizeis a verdade! Como pode um falcão carregar um menino?
          E Jinardama disse:
          - Senhores, ouvi o que vou dizer: Onde os ratos comem uma balança de mil libras de ferro, que há de estranho no fato de um falcão levar consigo um menino?



Fábula do Panchatantra
          

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